Impermeabilidade cultural

Enchentes já não são mais exclusividade de grandes metrópoles, bastam poucos minutos de uma tempestade de verão e até centros urbanos relativamente pequenos são rapidamente alagados. Sistemas de captação e canalização de águas pluviais devem ser superdimensionados já desde a fase de projeto, antevendo o aumento das áreas urbanas, mas é difícil prever a demanda futura de áreas que crescem com velocidade cada vez maior, e canalizar toda água da chuva e todos os pequenos cursos de água em áreas urbanas já não é a solução, mas parte do problema.

A impermeabilização do solo acarreta graves consequências, além de enchentes e inundações, prejudicam o ciclo natural das águas e agravam a questão do aquecimento global. O planejamento inteligente da urbanização pode reduzir os efeitos negativos do avanço da ocupação do homem; Opções de calçadas e passeios com boa drenagem, asfalto permeável, existem e são muito simples; E ainda que seja melhor prevenir do que remediar, há também medidas compensadoras que podem atenuar os danos causados pela desertificação dos centros urbanos.

Estamos falando de um problema sério, onde a impermeabilidade mais preocupante é a cultural, de pessoas que continuam a arrancar árvores para evitar o incomodo de varrer folhas sobre o chão, e a substituir grama por concreto para não ter de conviver com poeira e insetos, impermeabilizando cada centímetro quadrado dos espaços que ocupam e entupindo as galerias urbanas de lixo e entulho, fechando suas mentes pras conseqüências cada vez mais alarmantes da falta de consciência e educação ambiental

O Eco Chato


Eco chato é um termo carinhoso usado pra designar militantes ambientais peso pena, como este que vos escreve pretende. Tornar-se eco chato num mundo já tomado pelas discussões ambientais é relativamente simples, o passo-a-passo é quase óbvio. E exige primeiro que se interesse pela interação do homem e seu modo de vida com o meio ambiente, que se preocupe com a saúde dessa relação. Não é um status socialmente muito badalado, mas quer melhorar a sociedade de alguma forma.

Não é tarefa fácil saber até onde idéias e propostas que visam conservar o meio ambiente são viáveis ou razoáveis. Sugerir, por exemplo, pra jovens mães voltar às antigas fraldas duráveis de pano, e às mulheres o uso de absorventes reutilizáveis ou coletores de fluxo pra alguns pode não parecer nada razoável, mas há quem o faça. Estes entre tantos outros assuntos controversos, em maior ou menor grau, como o vegetarianismo e dietas vegan, implicam muito as convicções de cada um e impactam diretamente no conforto e qualidade de vida.

Muito pode ser feito com o avanço da tecnologia e devemos sim investir e acreditar em soluções tecnológicas pra muitos dos atuais desafios da sustentabilidade. Mas é excesso de confiança esperar que apenas avanços tecnológicos solucionem o atual estado de desequilíbrio ecológico que nós humanos temos causado. Essa é a premissa do eco-chato, essa postura delicada, de quem se espera que comece a usar transporte coletivo ele mesmo antes de começar discorrer sobre mobilidade e sugerir a outros abrir mão do conforto de um carro.